O atraso de treinadores brasileiros sintetizado em falas deselegantes que geram vergonha – afinal, temos futuro?

Ouça o resumo aqui:
Pra início de texto, deixo claro: nunca fui fã de falta de humildade, mas também não apoio o uso da mesma em excesso.
Também nunca gostei muito de quem fala o que quer (e muitas vezes não fala nada de bom) e confunde isso com ‘personalidade forte’. Pra mim, isso é apenas um babaca mesmo.

Agora que iniciamos, podemos ir aos fatos: tivemos pouquíssimos técnicos brasileiros treinando times ou seleções de elite (além dos nossos nacionais).
Que me lembre, Luxemburgo (no Real Madrid), Felipão (Portugal e Chelsea), Parreira (Valencia e Fenerbahçe – se considerarmos o time turco como um gigante local) e Zico (Japão, CSKA Moscou e o mesmo Fenerbahçe).
Abrindo – e abrindo BEEEM – o leque, podemos incluir alguns dos vários que treinaram clubes árabes tradicionais e talvez o ítalo-brasileiro Thiago Motta em Juventus, e Leonardo, nos rivais de Milão.

Deselegância e Hipocrisia
Sendo assim, soam absurdamente hipócritas e enormemente deselegantes e desnecessários os comentários estúpidos feitos essa semana pelos técnicos já aposentados Oswaldo de Oliveira e Emerson Leão.
Oswaldo, cuja carreira foi em geral mediana e encerrada em 2019, ganhou um ‘Mundial’ – campeonato esse contestado e descredibilizado até hoje – e se notabilizou por passagens apagadas e polêmicas em grandes clubes brasileiros, tendo oportunidades estrangeiras diminutas: Emirados Árabes, Catar e Japão.

Leão, goleiro histórico do Palmeiras e um técnico vitorioso, colecionou polêmicas pelo seu estilo de ‘temperamento forte’ e sem limites para falar. Viajou um pouco menos que o colega, além do currículo vasto no Brasil: treinou somente clubes de Qatar e Japão, inclusive tendo abandonado o São Paulo que seria campeão Mundial em 2005, por conta de uma ‘dívida de gratidão com um amigo no Japão’.
Mesmo com ambos tendo rodado pouco lá fora, ainda assim, já foram o que hoje tanto abominam: técnicos estrangeiros.
Em seu vago argumento, alegam que o técnico brasileiro é capaz e não precisa ser substituído. Que vivemos uma ‘invasão’ estrangeira.
E que o italiano Carlo Ancelotti (testemunha de todo esse absurdo dito) até teria gabarito para treinar a Seleção, mas após ‘ganhar a Copa, poderia dar lugar a um técnico nacional’.
Nunca houve, de qualquer outro colega de profissão, nenhuma ‘revolta’ por ambos estarem em outros países, ‘tomando lugar’ de profissionais locais – não que noticiado, ao menos.
A deselegância em tomar um evento neutro e diplomático como era para atacar gratuita e presencialmente outra pessoa, com falas ultrapassadas, hipócritas e desnecessárias, mostram não apenas o despreparo que caracteriza boa parte da geração anterior de técnicos brasileiros (e de alguns atuais, também).
Mostra uma tendência preocupante e rasa, que vem ganhando força a cada dia: a intolerância à estrangeiros apenas pelo fato de, pasmem… serem estrangeiros!
Não há um argumento próprio que justifique: não há desemprego, doenças, criminalidade. Não mais do que já temos por conta de nossos próprios cidadãos.
Assim como o futebol sempre reflete a sociedade em que vivemos, ele também nos mostra que não apenas temos pessoas que se envergonham de falas estúpidas como essas (o que ainda dá certa esperança), mas nos lembra de que babacas sempre existiram e sempre existirão – alguns, são até bem-sucedidos.
Mas ainda mais bem-sucedido, foi o próprio ofendido, Carlo Ancelotti, que não apenas desprezou (mas não sem ter se incomodado) todo o acontecimento, como ainda explico um pouco depois, para quem ainda tinha alguma dúvida: os técnicos brasileiros são fracos.

E não que precise de mais alguma validação, mas Carletto ainda pode mais: fazer com que uma geração mediana ganhe uma Copa do Mundo, sendo assim, o primeiro e único técnico campeão estrangeiro em uma competição dessa.
Seria mais um recorde em sua carreira. Mais uma confirmação de sua necessária presença aqui. Um tapa não de pelica, mas de concreto, em todos que inconvenientemente tentaram derrubá-lo por pura xenofobia e alguma inveja.
Seria, o que Emerson Leão não conseguiu, estando no mesmo cargo. E já é muito mais do que Oswaldo fez.

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